Perfis coletivos movimentam discussões acaloradas entre adolescentes de 13 a 18 anos
As contas “flop” do Instagram são tendência na rede de fotos entre os adolescentes. Elas trazem espaços dedicados a discussões de temas diversos: de memes a youtubers, passando por controle de armas, feminismo, imigração e questões LGBTQ. Os perfis são administrados coletivamente, quase sempre por adolescentes entre 13 e 18 anos.
A moda surgiu nos Estados Unidos e vem crescendo principalmente por lá, onde a migração dos jovens do Facebook para o Instagram já foi observada em vários estudos. Conheça mais sobre o novo fenômeno e veja como identificar um perfil flop na rede social.
O nome “flop” está diretamente relacionado ao sentido literal da expressão: fracasso, em inglês. Originalmente, os perfis foram criados para ironizar pessoas de grande notoriedade na Internet, como celebridades e influenciadores digitais famosos, escancarando suas falhas. Um comentário racista de um blogueiro, uma matéria homofóbica ou um cantor sendo arrogante com alguém são exemplos do que aparece nessas contas.
“O conteúdo é centrado em torno de coisas que achamos factualmente ou moralmente erradas, e é assim que as criticamos. Hoje, por exemplo, eu postei um flop de uma senhora que estava zombando alguém por sem ser teto. Isso é uma coisa horrível de se fazer”, explicou Taylor, uma adolescente de 15 anos que administra uma conta flop, ao portal The Atlantic.
As discussões
Os principais temas abordados são assuntos políticos. O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, é um dos centros dos debates, assim como questões sociais. Como a ideia é postar “falhas”, observa-se um padrão: perfis conservadores publicam conteúdos sobre tópicos como feminismo, Black Lives Matter (“Vidas Negras Importam”) e direitos LGBT, por exemplo, enquanto contas administradas por liberais apontam comportamentos problemáticos de conservadores.
Contudo, nem sempre uma conta flop tem uma orientação política única. Às vezes os administradores possuem opiniões divergentes, como acontece na @toomanyflops_, segundo Hal, um dos nomes por trás do perfil. “Alguns de nós somos pró-vida, alguns são pró-escolha, alguns são transgêneros, alguns são religiosos, alguns são ateus… Como administradores de contas, sempre tentamos nos engajar em diálogo e promover a conversa”, contou a The Atlantic.
Para identificar quem está falando o quê, os posts vêm identificados com um emoji, cada um atribuído a um administrador. A legenda geralmente fica na bio da conta, e vai mudando conforme os membros entram e saem da “comunidade”.
Post típico das contas flop traz discussões sobre política e questões sociais (Foto: Reprodução/Instagram)
Mas nem só de assuntos espinhosos vivem os flops. Há espaço também para o entretenimento puro e simples, como é o caso das contas criadas por fandoms. Nesta categoria estão os perfis que discutem o app Musical.ly, o YouTube ou séries de TV. Há ainda os chamados flops IRL (sigla para “In Real Life”, ou “na vida real”), em que as pessoas contam situações com coisas erradas que ocorreram fora da Internet.
Contas flop podem discutir assuntos específicos, como aplicativos e séries (Foto: Reprodução/Instagram)
Motivação dos adolescentes
De acordo com a reportagem do The Atlantic, muitos jovens relataram que as contas flop são um espaço para discutirem as questões que lhe interessam livremente, longe dos olhos de pais, professores ou outras figuras de autoridade. “Os adolescentes querem uma saída para expressar suas opiniões com o mesmo tipo de convicção que talvez não sejam capazes de expressar em casa ou em outros lugares de suas vidas”, disse Hal, que tem 17 anos.
Outra grande motivação está na descrença desse público com os veículos de imprensa tradicionais. Os entrevistados contaram não acreditar no que liam nos noticiários, viam na TV ou mesmo eram ensinados em sala de aula. Para eles, os conteúdos dos perfis flops são mais confiáveis porque podem ser apurados e debatidos coletivamente.
Essa crença abre margem para proliferação de fake news. Os administradores afirmam que removem conteúdos quando percebem que tratam-se de informações falsas, desde que tenham verificado isso com os próprios métodos. Mesmo com os lados negativos dos flops, o professor de estudos de mídia da Universidade da Virgínia, Siva Vaidhyanathan, enxerga o fenômeno com bons olhos: “se os jovens estão ficando mais engajados politicamente por causa disso, melhor ainda”.
Exemplo de conta flop no Instagram para discutir temas LGBT (Foto: Reprodução/Instagram)
A onda no Brasil
No Brasil, a moda das contas flop não pegou ainda. As páginas em português com o termo não parecem ter a mesma ideia explanada acima, trazendo a noção de flop mais como sinônimo de página ou perfil que não tem conteúdo ou muitos seguidores. Seguindo hashtags como #flop, #flops e seus derivados, o que se vê são publicações de adolescentes americanos.