Com um ano de campanha pela frente, caciques partidários insistem em lançar nomes tradicionais para a corrida eleitoral, ignorando pesquisas que revelam desejo de renovação
Brasília – A partir deste mês, o país está a um ano das eleições majoritárias. E, desde a primeira disputa após a redemocratização, em 1989, não havia um cenário tão incerto do que sairá como resultado das urnas. A indefinição encontra-se em todos os níveis de poder — das cadeiras de deputados estaduais à Presidência da República. E, mesmo diante de pesquisas e indicativos de que a população quer uma completa renovação, os partidos apontam para velhos e tradicionais nomes da política brasileira como solução.
O discurso sobre o novo se adaptou ao longo dos últimos meses e foi incorporado por aqueles que dominam o cenário há décadas. A promessa agora é “nova política”. O exemplo mais recente é a eleição suplementar ao governo do Amazonas, ocorrida em agosto deste ano. A população escolheu Amazonino Mendes (PDT-AM), que desde 1983 se reveza em períodos na Prefeitura de Manaus e no governo do estado. Em segundo lugar ficou o senador Eduardo Braga (PMDB-AM), outro medalhão da política amazonense.
“Que renovação é essa que leva ao segundo turno Amazonino e Eduardo Braga? Isso não existe. O sistema favorece quem está ali. E vai aumentar com as mudanças da reforma política. Com o fundo eleitoral e a redução no tempo de campanha, aqueles que têm o controle sobre os partidos vão direcionar os recursos para se manter no poder. Quem está chegando terá pouquíssima chance. A eleição reproduzirá o mais do mesmo. Não houve mudança no sistema eleitoral nem cultural suficientes para mostrar a importância de se eleger um Parlamento não viciado”, afirma o diretor de documentação do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), Antônio Augusto de Queiroz.
O analista político acredita que a renovação na Câmara dos Deputados, por exemplo, ficará dentro da média histórica, que gira em torno de 40% a 50%. Em 2014, o número chegou a 43,7% — 198 novos deputados e 26 que voltaram, mas não participaram da legislatura anterior. A maior taxa já registrada de chegada de novos políticos à Casa ocorreu em 1990, com 62%. “A renovação não será real. Vai acontecer uma circulação: senador que vai concorrer à Câmara, deputado que vai para a Assembleia, secretário que vai virar deputado, filho que vai assumir a vaga do pai. Tudo continuará nas mãos dos mesmos grupos”, aposta Antônio Queiroz.
Exemplo do passado
Já o especialista em marketing eleitoral Marcelo Vitorino acredita em uma renovação em torno de 55% na Câmara. Para ele, diante da crise política e ética que o país enfrenta e com a previsão de uma campanha mais barata, abre-se uma janela de oportunidade para quem quer entrar na política. Vitorino afirma que, para entender o panorama de 2018, basta olhar para o passado: 1989. “Será uma eleição muito parecida. Muitos candidatos e incertezas. Agora, todo mundo estará no mesmo barco do pouco dinheiro. Claro que há colégios eleitorais em que os caciques são muito fortes e isso não cairá, mas o momento é, sim, propício para a novidade”, garante.
Aos 72 anos, o senador Alvaro Dias (Podemos-PR) vê no momento a oportunidade para chegar ao Palácio do Planalto. Pré-candidato, o paranaense já esteve na posição de deputado estadual, federal, governador do estado e cumpre o quarto mandato no Senado. Para ele, o maior desafio das eleições será vencer a descrença da população e o descrédito em relação aos partidos. “O que se espera não é o novo em idade ou o novo na política. Até porque, o novo em idade tem sido uma decepção. O que a população deseja é o método novo, uma gestão moderna, uma mudança de conceito e da cultura política. E, certamente, uma experiência precedente na atividade pública passa a ser uma vantagem para quem tem um itinerário diferente da maioria”, acredita.
Riscos
Especialistas ressaltam, porém, os perigos do desejo pela renovação, da falta de opções apresentadas pelas legendas e da descrença com a política. A tendência é a eleição de “salvadores da pátria” e de um grande número de abstenções, votos brancos e nulos. O cenário foi antecipado nas eleições municipais de 2016, quando esse número chegou a 32,5%. “O receio é que cresça essa campanha do ‘Não reeleja ninguém’ e pessoas boas fiquem de fora. Na ânsia de fazer uma coisa melhor, às vezes se coloca coisa muito pior. Esse movimento dará espaço para gente que se compromete somente com o próprio ego. É preciso renovar com consciência, e não banalizar o voto. A história nos mostra que isso dá errado”, frisa Vitorino.
Pesquisa
Mesmo condenado em primeira instância pelo juiz Sérgio Moro, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) lidera a corrida presidencial. Se a eleição fosse hoje, o petista teria pelo menos 35% das intenções de voto nos cenários testados pela pequisa Datafolha divulgada ontem. Em segundo lugar aparecem, tecnicamente empatados, o deputado federal Jair Bolsonaro (PSC), que tem entre 16% e 17%, e a ex-senadora Marina Silva, que oscila entre 13% e 14%, nos cenários com o petista. Com Lula no páreo, os tucanos Geraldo Alckmin e João Doria têm 8% das intenções de voto, segundo o levantamento feito nos dias 27 e 28 em 194 cidades, com 2.772 entrevistados.
Desiludidos
32,5%
Percentual de abstenções, votos brancos e nulos das eleições municipais de 2016
PMDB é coadjuvante
Faltando um ano para o primeiro turno da eleição presidencial de 2018, o PMDB governa o país com as maiores bancadas do Congresso Nacional, mas assiste como coadjuvante às movimentações de aliados e adversários para a próxima campanha. É a primeira vez desde a redemocratização que a legenda que comanda o Executivo federal não tem nomes com potencial para disputar um novo mandato no Palácio do Planalto a essa altura do calendário.
Com o presidente Michel Temer – que tem 3% de aprovação popular, segundo pesquisa CNI/Ibope divulgada na semana passada – acusado na Lava-Jato e com alguns de seus principais auxiliares e correligionários investigados ou presos, o partido deverá abrir mão de encabeçar uma chapa. A prioridade é tentar se “reinventar” para manter o que as lideranças ainda consideram ser um patrimônio: a capilaridade política nos estados.
Se antes das denúncias da Procuradoria-Geral da República (PGR) contra Temer o partido acreditava que a melhora da economia poderia cacifar uma eventual reeleição do presidente, agora ninguém mais cogita esse cenário. “O PMDB não deve ter candidato à Presidência da República em 2018. Temos de refletir sobre o fracasso das candidaturas de (Orestes) Quércia e Ulysses Guimarães. O partido deve apoiar um candidato da base que se comprometa com a agenda reformista”, disse o deputado Darcísio Perondi (PMDB-RS), aliado próximo de Temer.
Quando indagado sobre os cenários com os quais o PMDB trabalha para 2018, o presidente do partido, senador Romero Jucá (RR), apresenta um leque amplo. “No nosso campo, existem vários nomes com condição (de disputar o Palácio do Planalto): Henrique Meirelles, João Doria, Geraldo Alckmin”, disse ele em recente entrevista. O primeiro é filiado ao PSD e os dois últimos são do PSDB.
Fonte: Guilherme Mendes - especial para o EM
O discurso sobre o novo se adaptou ao longo dos últimos meses e foi incorporado por aqueles que dominam o cenário há décadas. A promessa agora é “nova política”. O exemplo mais recente é a eleição suplementar ao governo do Amazonas, ocorrida em agosto deste ano. A população escolheu Amazonino Mendes (PDT-AM), que desde 1983 se reveza em períodos na Prefeitura de Manaus e no governo do estado. Em segundo lugar ficou o senador Eduardo Braga (PMDB-AM), outro medalhão da política amazonense.
“Que renovação é essa que leva ao segundo turno Amazonino e Eduardo Braga? Isso não existe. O sistema favorece quem está ali. E vai aumentar com as mudanças da reforma política. Com o fundo eleitoral e a redução no tempo de campanha, aqueles que têm o controle sobre os partidos vão direcionar os recursos para se manter no poder. Quem está chegando terá pouquíssima chance. A eleição reproduzirá o mais do mesmo. Não houve mudança no sistema eleitoral nem cultural suficientes para mostrar a importância de se eleger um Parlamento não viciado”, afirma o diretor de documentação do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), Antônio Augusto de Queiroz.
O analista político acredita que a renovação na Câmara dos Deputados, por exemplo, ficará dentro da média histórica, que gira em torno de 40% a 50%. Em 2014, o número chegou a 43,7% — 198 novos deputados e 26 que voltaram, mas não participaram da legislatura anterior. A maior taxa já registrada de chegada de novos políticos à Casa ocorreu em 1990, com 62%. “A renovação não será real. Vai acontecer uma circulação: senador que vai concorrer à Câmara, deputado que vai para a Assembleia, secretário que vai virar deputado, filho que vai assumir a vaga do pai. Tudo continuará nas mãos dos mesmos grupos”, aposta Antônio Queiroz.
Exemplo do passado
Já o especialista em marketing eleitoral Marcelo Vitorino acredita em uma renovação em torno de 55% na Câmara. Para ele, diante da crise política e ética que o país enfrenta e com a previsão de uma campanha mais barata, abre-se uma janela de oportunidade para quem quer entrar na política. Vitorino afirma que, para entender o panorama de 2018, basta olhar para o passado: 1989. “Será uma eleição muito parecida. Muitos candidatos e incertezas. Agora, todo mundo estará no mesmo barco do pouco dinheiro. Claro que há colégios eleitorais em que os caciques são muito fortes e isso não cairá, mas o momento é, sim, propício para a novidade”, garante.
Aos 72 anos, o senador Alvaro Dias (Podemos-PR) vê no momento a oportunidade para chegar ao Palácio do Planalto. Pré-candidato, o paranaense já esteve na posição de deputado estadual, federal, governador do estado e cumpre o quarto mandato no Senado. Para ele, o maior desafio das eleições será vencer a descrença da população e o descrédito em relação aos partidos. “O que se espera não é o novo em idade ou o novo na política. Até porque, o novo em idade tem sido uma decepção. O que a população deseja é o método novo, uma gestão moderna, uma mudança de conceito e da cultura política. E, certamente, uma experiência precedente na atividade pública passa a ser uma vantagem para quem tem um itinerário diferente da maioria”, acredita.
Riscos
Especialistas ressaltam, porém, os perigos do desejo pela renovação, da falta de opções apresentadas pelas legendas e da descrença com a política. A tendência é a eleição de “salvadores da pátria” e de um grande número de abstenções, votos brancos e nulos. O cenário foi antecipado nas eleições municipais de 2016, quando esse número chegou a 32,5%. “O receio é que cresça essa campanha do ‘Não reeleja ninguém’ e pessoas boas fiquem de fora. Na ânsia de fazer uma coisa melhor, às vezes se coloca coisa muito pior. Esse movimento dará espaço para gente que se compromete somente com o próprio ego. É preciso renovar com consciência, e não banalizar o voto. A história nos mostra que isso dá errado”, frisa Vitorino.
Pesquisa
Mesmo condenado em primeira instância pelo juiz Sérgio Moro, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) lidera a corrida presidencial. Se a eleição fosse hoje, o petista teria pelo menos 35% das intenções de voto nos cenários testados pela pequisa Datafolha divulgada ontem. Em segundo lugar aparecem, tecnicamente empatados, o deputado federal Jair Bolsonaro (PSC), que tem entre 16% e 17%, e a ex-senadora Marina Silva, que oscila entre 13% e 14%, nos cenários com o petista. Com Lula no páreo, os tucanos Geraldo Alckmin e João Doria têm 8% das intenções de voto, segundo o levantamento feito nos dias 27 e 28 em 194 cidades, com 2.772 entrevistados.
Desiludidos
32,5%
Percentual de abstenções, votos brancos e nulos das eleições municipais de 2016
PMDB é coadjuvante
Faltando um ano para o primeiro turno da eleição presidencial de 2018, o PMDB governa o país com as maiores bancadas do Congresso Nacional, mas assiste como coadjuvante às movimentações de aliados e adversários para a próxima campanha. É a primeira vez desde a redemocratização que a legenda que comanda o Executivo federal não tem nomes com potencial para disputar um novo mandato no Palácio do Planalto a essa altura do calendário.
Com o presidente Michel Temer – que tem 3% de aprovação popular, segundo pesquisa CNI/Ibope divulgada na semana passada – acusado na Lava-Jato e com alguns de seus principais auxiliares e correligionários investigados ou presos, o partido deverá abrir mão de encabeçar uma chapa. A prioridade é tentar se “reinventar” para manter o que as lideranças ainda consideram ser um patrimônio: a capilaridade política nos estados.
Se antes das denúncias da Procuradoria-Geral da República (PGR) contra Temer o partido acreditava que a melhora da economia poderia cacifar uma eventual reeleição do presidente, agora ninguém mais cogita esse cenário. “O PMDB não deve ter candidato à Presidência da República em 2018. Temos de refletir sobre o fracasso das candidaturas de (Orestes) Quércia e Ulysses Guimarães. O partido deve apoiar um candidato da base que se comprometa com a agenda reformista”, disse o deputado Darcísio Perondi (PMDB-RS), aliado próximo de Temer.
Quando indagado sobre os cenários com os quais o PMDB trabalha para 2018, o presidente do partido, senador Romero Jucá (RR), apresenta um leque amplo. “No nosso campo, existem vários nomes com condição (de disputar o Palácio do Planalto): Henrique Meirelles, João Doria, Geraldo Alckmin”, disse ele em recente entrevista. O primeiro é filiado ao PSD e os dois últimos são do PSDB.
Fonte: Guilherme Mendes - especial para o EM