Ontem reproduzi um artigo do jornalista Ricardo Kotscho intitulado “Um pouco de humildade só pode fazer bem” (veja mais abaixo).
No mesmo dia, o ex-governador e atual deputado federal José Reinaldo Tavares surpreendeu meio mundo politico com um artigo propondo um “pacto pelo Maranhão”. O artigo, publicado no Jornal Pequeno, já é histórico.
O artigo de Zé Reinaldo tem muito a ver com isto aqui que Kotscho escreveu: “Em tempos de crise generalizada como a que vivemos neste momento, certas características humanas se exacerbam, e por isso mesmo é preciso, reconhecer nossas fraquezas e limites, para não entrar na pilha dos que veem no próximo não um parceiro de travessia, mas um inimigo a ser abatido, como podemos constatar, por exemplo, na guerra sem quartel das redes sociais.”
Não possível saber exatamente o que levou Zé Reinaldo escrever tão surpreendente artigo.
Porém, não importam as razões claras ou obscuras do ex-governador, mas o fato em si, ou seja, a coragem e autoridade do autor. Alguém acima de qualquer suspeita em termos de rendição ou capitulação ao Sarney, até porque ele já teve outras boas e melhores oportunidades para tanto.
O gesto de Zé Reinaldo é mais do que simbólico: é um ato prático de quem conseguiu enxergar o essencial, que consiste em colocar o Maranhão acima das querelas politiqueiras. “O que pretendo é unir todos pelo desenvolvimento do Maranhão. É escolher pelo debate alguns projetos realmente fundamentais para alavancar o crescimento do estado e melhorar a vida sofrida de nossa população. Entre nós temos vários políticos de enorme prestígio, a começar pelo governador Flávio Dino e pelo ex-presidente José Sarney, juntando senadores, deputados federais e estaduais. Temos força política para, juntos nesse propósito, conseguirmos grandes avanços, desde que todos puxem numa só direção”, escreveu.
O ideal seria que tal atitude tivesse partido de quem tem as rédeas do poder nas mãos, mas nunca é demais acreditar que o espírito estadista se sobreponha às sombras ideológicas e ranços políticos incompatíveis com um Maranhão que precisa de uma pauta à altura das suas potencialidades econômicas e da garra do seu povo.
Agora só nos resta parabenizar José Reinaldo Tavares pela a atitude corajosa e dizer que realmente ele não fala no deserto. Este blogueiro mesmo há tempos prega o mesmo.
A diferença é que agora o defensor de um pacto pelo Maranhão é alguém da envergadora de um ex-governador e atual representante dos maranhense no Congresso Nacional.
Fique com o artigo de José Reinaldo:
O que Pacto pelo Maranhão”
José Sarney foi sem dúvidas o político que reteve maior poder e prestígio político no Maranhão, além de ter sido um dos mais fortes do país. E ficou mais poderoso ainda após o exercício na presidência da república. Sarney foi o poderosíssimo ex-presidente, sobretudo no governo de Lula da Silva. Mandava e desmandava à vontade e Lula chegou a dizer, inclusive, que Sarney não era um homem como os outros. Era quase um mito.
Mas no Maranhão, em que pese o seu julgamento, ficou devendo muito em relação ao que poderia ter feito, considerando o seu poder pessoal e político incontestáveis.
Mas, enfim, este não é um artigo para criticá-lo. Isso já fiz muitas vezes ao longo de muitos anos e por isso recebi muitas vezes o peso de sua ira. Contudo, isso ficou para trás e tenho que olhar para a frente e não ficar remoendo o passado.
Sarney não tem mais a força que teve, mas ainda tem muito prestígio pessoal e ainda detém grande força política. Isso é inegável.
Hoje se diverte criticando o governo de Flávio Dino, homem que derrotou de maneira muito clara o seu grupo político. Isso são fatos.
Farei aqui um apelo ao ex-presidente e àquele político que fascinou a todos os jovens promissores que com ele trabalharam, quando governador e nele acreditaram, como eu. Vejam bem, não estou pedindo aqui que deixe de fazer oposição, sendo esse o seu desejo. Não, nada disso! Estou propondo é um pacto pelo Maranhão, por esse estado pobre e com grande parte da população vivendo com renda oriunda do Bolsa Família. Estou propondo uma união de importantes forças políticas em torno de projetos fundamentais para o desenvolvimento do estado e para tirar o estado dessa situação. O Ceará fez isso no passado e disparou com uma agenda de consenso que o transformou num dos estados mais importantes do país. E o nosso Maranhão tem muito mais condições naturais para o desenvolvimento que o Ceará, mas hoje estamos bem atrás.
Países só se desenvolveram com pactos como esse, vejam o caso da Espanha, onde as questões eram tão acirradas que chegaram a ir a uma guerra civil sangrenta e terrível. Lá ficou na história o Pacto de Moncloa, fundamental para a busca do desenvolvimento que hoje sustenta a Espanha moderna.
É claro que se isso não acontecer, iremos lutar até conseguirmos, mas se pudermos fazer uma agenda acima da política, juntando as forças de todos que puderem contribuir, será muito mais fácil e mais rápido conseguir mudar o Maranhão.
Parece óbvio que o ex-presidente teria, como tem em qualquer lugar, uma participação muito importante em tudo. Repito: não se trata de pacto político, mas sim de tentar elencar um grupo de projetos estruturantes para que possamos pular etapas e colocar o Maranhão em seu lugar entre os estados mais promissores do país.
Aqui falo por mim. Não falo por mais ninguém. Portanto não se trata de qualquer tipo de barganha. Não se trata da oferta de cargos em troca de apoio. Não é, enfatizo, um pacto político. Não se trata, enfim, de troca de favores.
O que pretendo é unir todos pelo desenvolvimento do Maranhão. É escolher pelo debate alguns projetos realmente fundamentais para alavancar o crescimento do estado e melhorar a vida sofrida de nossa população. Entre nós temos vários políticos de enorme prestígio, a começar pelo governador Flávio Dino e pelo ex-presidente José Sarney, juntando senadores, deputados federais e estaduais. Temos força política para, juntos nesse propósito, conseguirmos grandes avanços, desde que todos puxem numa só direção. O momento é de imensa dificuldade. O país quebrado, o governo federal politicamente paralisado por uma crise que começou política, indo em seguida tomar conta da economia e agora é social, com a inflação e o desemprego batendo à porta.
Não será tarefa fácil. Mas se estivermos unidos e com uma pauta bem estabelecida, creio que seremos fortes, objetivos e com grandes chances de conseguirmos grandes avanços. Só o fato de termos uma agenda em comum será de uma importância extraordinária.
Falo por mim, sem medos de patrulhas e de maus entendidos. Não serei eu a ganhar nada me arriscando assim. Será o povo do Maranhão. Mas sei que muitos entre nós pensam como eu. Não estarei sozinho e nem pregando no deserto. Nossa sociedade não perdoará a nós políticos, se não nos unirmos em torno do projeto maior que é o desenvolvimento do Maranhão. Essa é a finalidade maior de estarmos na política, com ou sem mandatos.
“Pronto, falei” – como dizem os internautas. Peço a reflexão de todos. Não se trata de rendição e nem de submissão. Trata-se do Maranhão!
Pensem nisso e vamos juntos!