por Nonato Reis (publicado originalmente no Jornal Pequeno, edição deste domingo).
A vitória de Flávio Dino em 2014 modificou a forma de o maranhense enxergar o futuro, após décadas de convívio com o sofrimento e a desesperança. E de modo particular abriu uma janela para que São Luís mudasse o seu destino, marcado por abandono e maus tratos. Passado pouco mais de um ano da chamada “libertação”, não sei dizer qual é o estado de espírito do maranhense em relação ao novo governo, mas na capital há um certo clima de dèjá vú.
São Luís permanece uma cidade sem horizonte. E pior do que conviver com problemas que a acometem há décadas é sentir a ausência do órgão gestor. Naturalmente não se pode atribuir a Flávio Dino a má sorte da capital. Administrá-la é tarefa da Prefeitura. Mas havia, e ainda há, a expectativa de que, tendo um prefeito aliado do governador, pudesse (ou possa) haver uma resposta mais consistente da parte do poder público, no atendimento de suas demandas. Afinal, essa estória da conjunção política como forma de encaminhar as questões urbanas foi criada pelos próprios políticos, em época de campanha. Se eles incutiram isso na cabeça do eleitor, cabe agora provarem que não era apenas um blefe.
Muitos hão de dizer: no caso de São Luís, existe um projeto em curso envolvendo Estado e Município para o recapeamento asfáltico de ruas e avenidas. Certo, mas é só isso? Ajudar a recuperar a malha viária é o mínimo que se pode esperar de um governo que rompeu uma ordem política anacrônica e prometeu inaugurar uma nova forma de administrar a coisa pública.
Se for para ficar no paliativo, Roseana Sarney (cito-a porque, dos representantes do grupo Sarney foi a que passou mais tempo exercendo o poder) fez muito melhor, ao construir pontes e viadutos, abrir avenidas e expandir os limites urbanos da cidade. Não por acaso, a mídia ligada a ela costumava atribuir-lhe o rótulo de “melhor prefeita de São Luís”, o que é um exagero, mas foi um clichê que acabou criando corpo pela absurda omissão dos gestores que passaram pelo palácio de La Ravardière.
O tempo ainda é um aliado de Flávio Dino. Não há como comparar o legado de quatro mandatos com o de apenas um ano do primeiro mandato. Mas, à semelhança de Juscelino Kubitschek, que prometia reverter 50 anos de atraso em apenas cinco anos, Flávio Dino precisa dar as caras e mostrar a que veio. A campanha de 2016 está às portas e Edivaldo Junior não mais poderá usar o argumento surrado de que foi discriminado pelo Palácio dos Leões. O que foi feito até agora, resultante dessa parceria, é apenas cosmético, não garante a sua reeleição.
São Luís é uma cidade com enorme déficit de obras e serviços, resultado de uma penca de prefeitos ineptos, que se limitaram a tocar a máquina administrativa, no famoso estilo “feijão com arroz”. Pagavam o custeio da engrenagem, cumpriam o calendário de pagamento do funcionalismo, e o que sobrava promoviam ações pontuais na paisagem urbana. É muito pouco, inacreditável até, para uma metrópole com mais de l milhão de habitantes, com problemas de toda ordem.
Se Flávio Dino quer mesmo consolidar a sua liderança em São Luís e demonstrar a sua visão de gestor moderno, precisa sair da retórica e começar a colocar em curso um projeto estratégico para a cidade, que amplie a sua malha viária, melhore a mobilidade urbana e a prepare para enfrentar os desafios próprios de uma metrópole. Ao invés de crescer, São Luís virou um imenso pastel. Não pode continuar com o perfil de uma província. Há que se assumir como uma grande cidade. Certamente, isso é uma obra de gerações, mas tem que dar a partida agora. Até aqui apenas se patinou no limbo.