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sexta-feira, 17 de julho de 2015

O pós-humano: para onde vamos?

por Monica Aiub, Vya Estelar
“O pós-humano somos nós e os artefatos que construímos e incorporamos, passando a viver a partir da interação com eles.”
No dia 25 de junho de 2015, o filósofo brasileiro, João de Fernandes Teixeira, comemorou 60º aniversário. Trata-se de um pioneiro nos estudos sobre Filosofia da Mente no Brasil, tendo inspirado muitas pesquisas na área. Como presente de aniversário, nós, seus amigos, compusemos um livro como presente, do qual fui organizadora, juntamente com Maria Eunice Quilici Gonzalez e Mariana Broens, pesquisadoras da UNESP de Marília.
Nos dias 25 e 26 organizamos a Jornada Brasileira de Filosofia da Mente, reunindo os pesquisadores para homenagear João Teixeira. Foi um belíssimo encontro, e o livro presente, Filosofia da Mente, Ciência Cogntiva e o pós-humano: para onde vamos? (Editora FiloCzar), foi a temática do evento.
Justamente por ser uma temática muito instigante, decidi escrever aqui sobre algumas questões levantadas neste livro. A primeira delas diz respeito ao conceito de pós-humano. Teixeira afirma em seu livro, A mente pós-evolutiva (2010), que a parabiose – ou a simbiose entre humanos e máquinas – será o futuro pós-evolutivo. Na medida em que criamos novas tecnologias e as incorporamos, modificamos nosso corpo, interagimos com o mundo e com o outro de diferentes maneiras, pensamos e sentimos de modo tão diverso que cabe questionar o que nos faz humanos, ou melhor, o que caracteriza nossa humanidade.
O pós-humano ou transumano, segundo autores como Andy Clark, já está ai. O pós-humano somos nós e os artefatos que construímos e incorporamos, passando a viver a partir da interação com eles. Outros autores, como Ray Kurzweil, apontam para um futuro próximo onde atingiremos a singularidade, ou seja, as máquinas criadas por nós atingirão um patamar tão ou mais desenvolvido que o alcançado pelo ser humano.
Construímos robôs, máquinas capazes de realizar funções que os seres humanos realizam; alteramos nossos corpos, incorporando partes artificiais, e com isso construímos ciborgues; desenvolvemos tecnologias que nos permitem estar além dos limites de nossos corpos, incorporar elementos, expandir os limites de nossas mentes; como conviveremos com estes seres híbridos? Seremos nós estes seres híbridos.
O suposto aprimoramento da condição humana através dos recursos da computação, da inteligência artificial, da bioquímica e da genética traz consequências não apenas em nossas formas particulares de vida, mas também no campo político e ético, com aplicações bélicas, como por exemplo a aeronave de bombardeio Taranis – uma aeronave autônoma, não tripulada, capaz de atacar com precisão a longa distância, sem ser detectada. Além disso, é capaz vigiar por longos períodos, marcar alvos, coletar dados, dissuadir adversários e atacar territórios hostis.
Além das questões éticas e políticas do uso bélico da tecnologia, há também questões relativas à produção e consumo de bens, assim como as relações e vida em sociedade. Superação da mortalidade; substituição de partes obsoletas do corpo, e talvez até de todo o corpo, por partes ou corpos artificiais; modelação neuroquímica do cérebro e do comportamento, consequentemente da sociedade; responsabilidade e liberdade; questões bioéticas; questões existenciais tais como o sentido da vida diante da imortalidade… São questões dessa natureza que permeiam o livro e os debates sobre o pós-humano.
De um lado, a possibilidade de aprimoramento de nossa condição humana com a incorporação de tecnologias nos parece sedutora. Além de oferecer respostas para problemas até então insolúveis, tais como a cura de doenças como alzheimer, parkinson, entre outras, poderemos incorporar próteses que nos tornarão mais fortes, mais ágeis, mais precisos em nossos movimentos e afazeres cotidianos. Poderemos modelar nosso cérebro de modo a nos tornarmos mais capazes de aprender, de lidar com problemas, de encontrar soluções. Já buscamos isso de muitas maneiras: as cirurgias plásticas, as próteses estéticas, os medicamentos para aperfeiçoar nosso funcionamento neuronal, nossa relação íntima com os computadores, mantendo-nos conectados por longos períodos, entre outras formas de incorporação de tecnologias.
Por outro lado, constatamos os problemas advindos destas mesmas tecnologias, assim como a destruição que o desenvolvimento tecnológico desenfreado trouxe ao nosso planeta. Consumimos o planeta e a nós mesmos enquanto criamos, produzimos, consumimos e incorporamos tecnologias.
Não se trata de assumir uma postura contra ou a favor das tecnologias, nem de propostas para incentivar ou refrear o desenvolvimento tecnológico. A reflexão suscitada pelos autores pretende, muito mais, questionar a forma como compreendemos a nós mesmos, nossas relações com os outros seres e com o planeta que habitamos.
Ao incorporarmos tecnologias, transformamos a nós mesmos, transformamos o mundo que habitamos. Estamos observando tais transformações? Estamos refletindo sobre o que estamos construindo para nós mesmos e para as futuras gerações? Se estamos, qual o mundo em que queremos viver? Estamos criando e incorporando tecnologias para a constituição deste mundo ou estamos construindo, consumindo e incorporando tecnologias que nos transformarão em algo distante do que buscamos? O que buscamos? Para onde vamos?
São questões dessa natureza que precisam ser pensadas por cada um e por todos nós.
Referências:
AIUB, M.; GONZALEZ, M. E. Q.; BROENS, M. (Organizadoras). Filosofia da Mente, Ciência Cognitiva e o pós-humano: para onde vamos? São Paulo: Editora FiloCzar, 2015.
CLARK, A. A Natural-Born Cyborgs:Minds, Technologies and the Future of Human Intelligence. New York: Oxford University Press, 2003.
KURZWEIL, R. A era das máquinas espirituais. São Paulo: Aleph, 2007.
TEIXEIRA, J.F. A mente pós-evolutiva. Petrópolis: Vozes, 201

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